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quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Pão de queijo, doce de leite e Serra do Cipó
Emblemática a fronteira GO-MG: tem um riozão marcando a divisa, do lado mineiro já começa o mar de morros e a brisa fresca, e até as vaquinhas brancas e pretas das embalagens de leite substituem bruscamente os nelore cinzentos pouco românticos do Brasil Central. Enfim Sudeste.
OS terrenos sedimentares das chapadas do Brasil Central ficaram para trás, agora quem embasa o relevo e emoldura as cachoeiras são as rochas cristalinas mais duras e antigas. Morros mais agudos, fraturas de rochas mais violentas.De BH a caminho da Serra do Cipó, rios bem encaixados e com água abundante aparecem, mesmo nesta seca que também se manifesta intensa aqui. A menos de duas horas de viagem de BH, o Parque Nacional da Serra do Cipó é destino frequente nos finais de semana dos (?)BeloHorizontinos (mineiros me corrijam se necessário). Mas não deixa de ser menos impressionante.
No sábado passado a idéia era atacar o Cânion do Ribeirão Mascates pelo seu vale, em 25 km de caminhada.Já na entrada do Parque ( e do vale)um grande paredão à leste e uma sequencia de pequenos morros à oeste delimnita e encaixa o vale e não deixa ninguiem se perder, é só ir em frente e chegar ao Canio. Campos, Savanas Rupestres, Matas de Galeria, pequenos riachos e várias misturas entre estas coisas divertem enquanto não chega o canion. De repente a triçha inclina, é pedra sobre pedra, e ele aparece poderoso com suas centenas de metros de altura. O Ribeirão Mascates passa apertado entre os paredões e gera vários pequenos poços de água cristalina e rochas amareladas. POucos caminhantes chegaram aqui (quem veio estava à cavalo ou bike), e para entrar no cânion foi preciso tirar as botas e passar alguns poços com água no pescoço e a mochila suspensa pelo braço trêmulo pelo duplo esforço de suspender com e nadar com o outro. Invariavelmente a recompensa aparece materializada em alguns bons poços e recantos exclusivos.
Recomendo o Parque. As várias maravilhas poder ser exploradas sem guia (recebemos um mapa e algumas recomendações na entrada, e um "Bom Passeio"), a água é abundante e as belezas fartas. Com certeza eu volto.
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Que beleza esta pequena temporada em Minas. Depois de 100 dias e 100 noites sem ver cama nem banho quente foi ótimo desfrutar da Serra do Cipó e da região confortavelmente instalado, comendo farto e na hora certa, podendo escolher cerveja e vinho, e podendo compartilhar a experiencia com uma seleta companhia. A primeira etapa do Navegando vai se encerrar em breve com o meu retorno às origens no oeste do planalto paulistano.
domingo, 12 de setembro de 2010
Navegando pelas savanas centrais...
A vida corre mais rápido que os dedos no teclado... E nas ultimas semanas muita coisa tem acontecido sem que eu pare pra contar.
Nesta noite de domingo escrevo de Natividade, sul do estado de Tocantins, região onde começam as Serras que enfeitam o noroeste de Goiás. Saindo da lan house eu olho pros morros em frente e vejo uma linha brilhante, que eu calculo ter mais de 20 km de comprimento. É o fogo consumindo o cerrado. A cena tem sido comum: desde o sul do estado do Piauí tenho visto centenas de quilmetros de cinzas e toneladas de fumaça subindo. Só aqui no Tocantins está sendo observado um aumento de mais de 5 vezes na área queimada em relação ao ano passado. Consequencia do inverno magro deste ano, pouca chuva, tudo seco. E as perspectivas não são boas para o próximo.Confesso que é mais fácil digerir os números no telejornal do que as sensações que se tem ao andar entre as árvores queimadas ou ver o fogo avançar violentamente sobre áreas enormes e lindas.
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Para vir parar aqui saí do Guriú há dez dias, de carona com o papai que veio do sudeste visitar o filhão. Depois de algumas milhas velejadas com o violento leste desta época do ano partimos para o sul, cortando o Brasil central. Até agora estivemos no sul do Piauí e Maranhão. A idéia é continuar descendo para o sul, a próxima parada será a Chapada dos Veadeiros. Depois parto pra uma temporada no abençoado estado de Minas Gerais, papai volta pra sampa e eu sigo pra Serra do Cipó com uma companhia bem menos barbuda que o coroa... O destino final da etapa continental do Navegando? As cabeças da Patagônia chilena... E depois mais um pouco de vela, sol e mar na Terra da Luz. Antes que alguém me mande trabalhar aviso que estou descobrindo que trabalho é um conceito muito amplo, não podemos reduzi-lo à troca que usualmente se faz entre dinheiro e coisas chatas de fazer...
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Pouca gente sabe mas a savana brasileira, o Cerrado, começa já no sul do Piauí e Maranhão, e em grande estilo. Aqui o cerrado aparece em todas as suas caras (campos, savanas, matas de cerradão), sobre planícies e pendurado nas serras, sobre areia e sobre rocha. Nas matas de galeria que crescem junto aos rios encontrei ontem árvores que ultrapassavam os 20 metros de altura, perfeitamente retilíneas. Em outras regiões nunca vi passarem de 10.
Descobri também as intenções separatistas dos maranhenses desta região: é o Maranhão do Sul, que de fato tem muito mais a ver com o sertanejão de Goiás do que com o reggae de São Luís. São raros os negros na população, predominando os traços indígenas. As diferenças seguem na culinária, sotaque, ecologia e cultura material.
Lá no Ceará já eram frequentes os carros de som com as musiquinhas dos candidatos, aproveitando a melodia de algum dos vários sucessos do (neo)forró cearense. No Maranhão do sul também tinha candidato com musiquinha de forró, mas a maioria já estava adotando o sertanejo. Mas como afinal de contas estamos no Maranhão (ainda que do sul), apareceu um candidato a deputado estadual com uma levada mais reggae, que pegou uma do Bob, deu um tapinha na letra e mandou o som na caixa, heroicamente rebocada por uma valente bicicleta pelas ruas de Riachão...
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