Existe também a surpresa: o mar cresceu depois de quase dez quilômetros viajados cruzando a baía de Tutóia rumo às águas abrigadas do Delta. Dois homens, motor, vela e remo, todas as posses embarcadas. Com o mar que cresce, a sobrevivencia chama também a crescer a atenção. Muito vento, ondas desencontradas, a pancada do mar empurra água pra dentro, é preciso avançar.
A máquina é mais falível que o homem: molhado pelo mar, chacoalhado pelo alvoroço, o motor criatura mecânica emudece de vez. Deixar derivar até à costa não é solução, as ondas quebrando e pontudos tocos não convidam a porto, trituram homem e barco. Decidir voltar, o objetivo já não está à frente, mas atrás. Preservar a vida, a bagagem, a embarcação.
Vento duro, mar grosso, água entrando. Tirar o motor, amarrar tudo, abrir a vela, subir o mastro. Nenhum segundo perdido, nas horas limite é preciso de tudo, toda a força, toda a resistência, toda a inteligência, todo o material, toda a calma, não desistir.Por fim a vela em cima e o rumo certo, apontando para a praia da partida. Poucas horas e os pés já pisam a areia dura. Ufa...
Mas acionar o "ON" já não surte efeito. Tira e põe bateria e lente, ilumina e aquece, o esforço desesperado de ver acender o painel. Já não há sossego, já não se pode engolir as belezas que se vê, já não se pode consumir. Milhares de quilômetros, milhares de imagens, a receptiva criatura que registrou todas as cores destas páginas descansa em paz. Destino cumprido. É doce morrer no mar...
2 comentários:
Lindas fotos.
Parabéns!
Amigos, o personagem desta postagem é uma câmera fotográfica, não uma pessoa ... !
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