Confesso que tenho uma queda pelas regiões fronteiriças, seja entre estados ou países. Em geral elas tem pouca gente e a cultura e natureza nativas geralmente tem espaço. A triplice fronteira Argentina-Chile-Bolivia é um belo exemplo: desertos, salares, vulcoes, montanhas, lagunas e oasis comprimem-se em poucas dezenas de kilometros e me enchem os olhos.
Não espalhem, mas desta vez cheguei na Reserva de Fauna Andina Eduardo Avaroa (Bolivia)navegando a petroleo mesmo, em um tour prosaicamente contratado em uma agencia de turismo de San Pedro de Atacama. Além do viejo quechua guia e piloto do todo-terreno, nos acompanharam uma pequena e jovem família chilena, evidentemente acompanhando sus hijitos Joaquín y Cármen, encantadores...
Aqui a usualmente convulsiva cordilheira dos Andes capricha na dose: são abundantes os geiseres, termas, vulcoes e montanhas, que ultrapassam os 5000 metros em vários pontos. Este frenesi geológico traz para a superficie, além de lava, vapores e água quente, vários minerais metálicos, que a água do degelo de primavera dissolve e carrega para as lagunas aprisionadas entre os vulcões. O resultado é uma incrível diversidade de cores e configurações ecológicas, iluminada pelo sol branco e duro das grandes altitudes e fustigada por um vento forte que multiplicava a sensação de frio dos já reduzidos 4 graus centigrados (ao meio dia ...).
Desta vez eu tive que ser rápido. O típico sight-seeing não me permitu mais do que alguns punhados de minutos em cada parada, e as outras dezenas de veículos que faziam trajetos similares, bem como seus ocupantes, insistiam em pontilhar as fotos. Nesta hora valeu a concentração, a intimidade com o equipo e a natureza amável dos meus
companheiros de tour. Em todo caso, tive a meu favor na barganha as dezenas de minutos que gastamos no desayuno e no banho nas aguas termales.¡Que no se hace por los niños!
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terça-feira, 29 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
Valles de Luna y Muerte
O deserto mais seco do mundo, no altiplano atacameño, se faz sentir no corpo: lábios rachados e queimados pelo sol, vento e frio, nariz e sinus nasais constantemente irritados, olhos ardendo, o ar rarefeito das altitudes elevadas. A luz branca e dura do um sol inclemente maltrata a retina, mas desperta a cor e a sombra das mais improváveisformas erodidas em rocha, pedra e areia. Quando se esconde puxa uma queda de dezenas de graus centigrados na temperatura ambiente, e mostra um céu incrivelmente estrelado. Intensamente se sente a atmosfera encantada do deserto, que fascina e surpreende a cada olhar e faz cada desconforto valer a pena.
Para percorrer o deserto a partir da Meca turística de San Pedro de Atacama a energia escolhida foi a do corpo e a máquina o pedal. Escapa-se ao mesmo tempo dos estratosféricos preços dos tours motorizados e das hordas de turístas que diariamente lotam a vila e os "atrativos" da região de San Pedro. Sobre o selim de uma razoável mountain alugada por alguns milhares de pesos chilenos foi possível viajar algumas boas dezenas de kilômetros pelas quebradas del desierto..
Incríveis sensações nas pedaladas solitárias pelos Vales da Lua e da Morte. Nenhum ser vivo aparente além deste primata, nenhum som que não fosse o vento, nenhuma luz que não a do Sol e da Lua. Mas percebe-se que a vida não está ausente: a rocha e a areia transmutam-se em rostos e corpos que se contorcem a cada metro percorrido, a areia que se eleva em misteriosos remolinos com certeza abriga as criaturas do vento, largos e secos leitos de areia denunciam outrora caudalosos cursos d'água.
É o deserto mais seco e mais vivo do mundo.
Para percorrer o deserto a partir da Meca turística de San Pedro de Atacama a energia escolhida foi a do corpo e a máquina o pedal. Escapa-se ao mesmo tempo dos estratosféricos preços dos tours motorizados e das hordas de turístas que diariamente lotam a vila e os "atrativos" da região de San Pedro. Sobre o selim de uma razoável mountain alugada por alguns milhares de pesos chilenos foi possível viajar algumas boas dezenas de kilômetros pelas quebradas del desierto..
Incríveis sensações nas pedaladas solitárias pelos Vales da Lua e da Morte. Nenhum ser vivo aparente além deste primata, nenhum som que não fosse o vento, nenhuma luz que não a do Sol e da Lua. Mas percebe-se que a vida não está ausente: a rocha e a areia transmutam-se em rostos e corpos que se contorcem a cada metro percorrido, a areia que se eleva em misteriosos remolinos com certeza abriga as criaturas do vento, largos e secos leitos de areia denunciam outrora caudalosos cursos d'água.
É o deserto mais seco e mais vivo do mundo.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Butaca 37 y su ventana magica
Cruzar a Cordillera de los Andes por terra é sempre uma experiência visual e fisiológica marcante: a mudança de paisagens, temperatura e pressões sempre produz todo um espectro de sensações e imagens. Nas pouco mais de seis horas de trajeto entre San Salvador de Jujuy (ARG) e San Pedro de Atacama (Chile), foi possível ver muita coisa e fazer todas as fotos desse post. Sem me levantar da Butaca 37 (butaca=assento) da linha regular de buses que faz o trajeto.
No Paso de Jama, onde se localiza o puesto fronterizo de aduana, a altitude de 4221m, os fortes ventos e a temperatura próxima dos cinco graus frequentemente causa desmaios, enjôos, cefaléias e calafrios entre as moças e turistas mais frágeis. As três (moças) do nosso onibus que sofreram da puna enquanto aguardavamos na fila de passaporte,foram prestativamente socorridas pelo chazinho decoca trazido pela dupla de freiras veteranas que viajava conosco.
A linha parte das encostas relativamente úmidas da precordillera que encerra as planícies áridas do noroeste argentino e sobe incessantemente até atingir o altiplano atacamenho, uma das áreas mais secas do planeta. Ao longo do trajeto, uma sucessão impressionantemente heterogênea de paisagens e cores de sonho, iluminadas por um sol que brilha quase todos os dias do ano.
Apesar de regular, podia-se contar nos dedos de um amão apenas o número de jujenos ou atacamenos nativos que viajavam. Uma horda de mochileiros europeus padrão polvilhadas de seus onipresentes wanna be exóticos (africanos e asiáticos) ocupava quase todos os assentos: novidade após a interessantissima semana passada cruzando o paraguay e o norte-noroeste argentino, nas provincias do Chaco, Salta e Jujuy sem encontrar poucos ou nenhum turista estrangeiro. Excessão era o grupo de geólogos e geofísicos que voltava para casa após 60 dias de trabalho nas minas de lítio e sal.
Nesta região, a convulsão geológica que está produzindo os andes mistura dezenas de cores e formas de rochas sedimentares e magmáticas, e transforma quaisquer águas acumuladas em um caldo de minerais que assume outras tantas bizarras cores. Os salares e jazidas minerais que ocorrem em abundância nas cotas mais elevadas, já no altiplano atacamenho.
Depois de algumas boas dezenas de minutos ofegando, tiritando e lutando para manter os joelhos firmes na fila do puesto, e de mais algumas horas descendo até o vale de Atacama, chega-se ao destino final, em San Pedro. A bela paisagem tirou o fôlego e a fome: o lanche chegou intacto na aduana chilena de San Pedro, ponto final. Todas as perfumadas frutas argentinas tiveram que ser cruelmente descartadas antes da inspeção pelo severo Servicio Agricola e Ganadero chileno, sob pena de pesadas multas.
Puderam entrar no Chile os ricos alfajores, as várias imagens e uma leve enxaqueca, afinal ninguém é de ferro.
No Paso de Jama, onde se localiza o puesto fronterizo de aduana, a altitude de 4221m, os fortes ventos e a temperatura próxima dos cinco graus frequentemente causa desmaios, enjôos, cefaléias e calafrios entre as moças e turistas mais frágeis. As três (moças) do nosso onibus que sofreram da puna enquanto aguardavamos na fila de passaporte,foram prestativamente socorridas pelo chazinho decoca trazido pela dupla de freiras veteranas que viajava conosco.
A linha parte das encostas relativamente úmidas da precordillera que encerra as planícies áridas do noroeste argentino e sobe incessantemente até atingir o altiplano atacamenho, uma das áreas mais secas do planeta. Ao longo do trajeto, uma sucessão impressionantemente heterogênea de paisagens e cores de sonho, iluminadas por um sol que brilha quase todos os dias do ano.
Apesar de regular, podia-se contar nos dedos de um amão apenas o número de jujenos ou atacamenos nativos que viajavam. Uma horda de mochileiros europeus padrão polvilhadas de seus onipresentes wanna be exóticos (africanos e asiáticos) ocupava quase todos os assentos: novidade após a interessantissima semana passada cruzando o paraguay e o norte-noroeste argentino, nas provincias do Chaco, Salta e Jujuy sem encontrar poucos ou nenhum turista estrangeiro. Excessão era o grupo de geólogos e geofísicos que voltava para casa após 60 dias de trabalho nas minas de lítio e sal.
Nesta região, a convulsão geológica que está produzindo os andes mistura dezenas de cores e formas de rochas sedimentares e magmáticas, e transforma quaisquer águas acumuladas em um caldo de minerais que assume outras tantas bizarras cores. Os salares e jazidas minerais que ocorrem em abundância nas cotas mais elevadas, já no altiplano atacamenho.
Depois de algumas boas dezenas de minutos ofegando, tiritando e lutando para manter os joelhos firmes na fila do puesto, e de mais algumas horas descendo até o vale de Atacama, chega-se ao destino final, em San Pedro. A bela paisagem tirou o fôlego e a fome: o lanche chegou intacto na aduana chilena de San Pedro, ponto final. Todas as perfumadas frutas argentinas tiveram que ser cruelmente descartadas antes da inspeção pelo severo Servicio Agricola e Ganadero chileno, sob pena de pesadas multas.
Puderam entrar no Chile os ricos alfajores, as várias imagens e uma leve enxaqueca, afinal ninguém é de ferro.
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