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quinta-feira, 10 de março de 2011

Butaca 37 y su ventana magica

Cruzar a Cordillera de los Andes por terra é sempre uma experiência visual e fisiológica marcante: a mudança de paisagens, temperatura e pressões sempre produz todo um espectro de sensações e imagens. Nas pouco mais de seis horas de trajeto entre San Salvador de Jujuy (ARG) e San Pedro de Atacama (Chile), foi possível ver muita coisa e fazer todas as fotos desse post. Sem me levantar da Butaca 37 (butaca=assento) da linha regular de buses que faz o trajeto.
No Paso de Jama, onde se localiza o puesto fronterizo de aduana, a altitude de 4221m, os fortes ventos e a temperatura próxima dos cinco graus frequentemente causa desmaios, enjôos, cefaléias e calafrios entre as moças e turistas mais frágeis. As três (moças) do nosso onibus que sofreram da puna enquanto aguardavamos na fila de passaporte,foram prestativamente socorridas pelo chazinho decoca trazido pela dupla de freiras veteranas que viajava conosco.
A linha parte das encostas relativamente úmidas da precordillera que encerra as planícies áridas do noroeste argentino e sobe incessantemente até atingir o altiplano atacamenho, uma das áreas mais secas do planeta. Ao longo do trajeto, uma sucessão impressionantemente heterogênea de paisagens e cores de sonho, iluminadas por um sol que brilha quase todos os dias do ano.
Apesar de regular, podia-se contar nos dedos de um amão apenas o número de jujenos ou atacamenos nativos que viajavam. Uma horda de mochileiros europeus padrão polvilhadas de seus onipresentes wanna be exóticos (africanos e asiáticos) ocupava quase todos os assentos: novidade após a interessantissima semana passada cruzando o paraguay e o norte-noroeste argentino, nas provincias do Chaco, Salta e Jujuy sem encontrar poucos ou nenhum turista estrangeiro. Excessão era o grupo de geólogos e geofísicos que voltava para casa após 60 dias de trabalho nas minas de lítio e sal.
Nesta região, a convulsão geológica que está produzindo os andes mistura dezenas de cores e formas de rochas sedimentares e magmáticas, e transforma quaisquer águas acumuladas em um caldo de minerais que assume outras tantas bizarras cores. Os salares e jazidas minerais que ocorrem em abundância nas cotas mais elevadas, já no altiplano atacamenho.
Depois de algumas boas dezenas de minutos ofegando, tiritando e lutando para manter os joelhos firmes na fila do puesto, e de mais algumas horas descendo até o vale de Atacama, chega-se ao destino final, em San Pedro. A bela paisagem tirou o fôlego e a fome: o lanche chegou intacto na aduana chilena de San Pedro, ponto final. Todas as perfumadas frutas argentinas tiveram que ser cruelmente descartadas antes da inspeção pelo severo Servicio Agricola e Ganadero chileno, sob pena de pesadas multas.
Puderam entrar no Chile os ricos alfajores, as várias imagens e uma leve enxaqueca, afinal ninguém é de ferro.