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terça-feira, 24 de agosto de 2010
Guriú
Deitado no tucum armado na varanda da minha casa no Guriú,olhando o quintal de cajueiros e o mar ao fundo, finalmente dá pra escrever com calma.
Depois de quarenta dias e quarenta noites vividos nos dez metros quadrados do barco o estado mental e as decisões estratégicas estavam sendo cada vez mais influenciados pelo stress agudo e natural da sobrevivência e da navegação difícil: ficou claro pra mim que era hora do repouso. Consegui.
O Guriú é um povoado de poucas centenas de casas que fica no encontro do rio homônimo com o mar, dez quilômetros à oeste de Jericoacoara. Entre Jeri e Tatajuba e à sombra destes destinos, o fluxo turístico no local se limita a passagem obrigatória dos veículos sobre o canal de maré, feita em balsas similares à jangadas, conduzidas por jovens locais com a ajuda de longas varas de pau do mangue. A vila fica entre as dunas e o canal de maré, perto do manguezal sucumbindo ao soterramento pela areia trazida pelo vento leste, marca registrada do local.
A condição geográfica, ecológica e sociocultural do Guriú o fizeram muito interessante para uma estadia em terra: porto bom, seguro e abrigado, alta diversidade de ambientes a explorar (oceano, canal de maré, rio, manguezais, salgados, carnaubais, dunas, matas de restinga), fartura de pescados, cultura de pesca e navegação tradicional rica e diversa, e uma postura generosa, amigável e respeitosa da população.
Diante da possibilidade de ocupar uma casa bastante agradável, generosamente cedida pela família do pescador Jorge, me instalei, e já estou em terra há boas semanas, repousando no tucum do alpendre, caminhando pelas matas, praias e dunas, comendo muito peixe fresco e saboroso, acompanhando os nativos em suas atividades, fazendo manutenção do barco.
Na entrada da barra o prático contratado se mostrou bem pouco prático, e o barco bateu violentamente com o fundo na passagem rasa e com ondas fortes. As pancadas surdas e os estalos lúgubres me fizeram achar que de fato era o fim. Pular na água, com água pela cintura, empurrar o barco para dentro da barra a cada onda que o suspendia, aguardar a pancada com o fundo e torcer pra passar logo sobre a croa foi o que deu pra fazer, e deu certo. Já nas águas calmas do canal uma meia dúzia de canoas à vela esperava a maré subir um pouco mais pra chegar ao povoado.
Ofereci reboque às canoas, e quando a maré encheu entreguei o leme a um dos pescadores e me concentrei em retirar a água que já batia no volante do motor. Em poucos minutos o pequeno bote a vela fundeava no porto do Guriú, seguido pelo cordão de canoas coloridas...
As velas azuis do Estrela e o seu comandante já eram conhecidos dos locais do Guriú, que acompanharam, nos dias anteriores, com a natural supresa, as minhas tentativas de entrar na barra, as desistências e o retorno à Jeri com o duro leste na cara. E eu com igual supresa fiquei sabendo que nas duas tentativas estive bem à frente das entradas corretas.
Fotos: Pescador varejando canoa no Rio Guriú; Dunas estiradas entre a vila e a barra do guriú; Árvores de mangue sendo soterradas e asfixiadas por areia das dunas; Canoas no porto do Guriú e o habitual enxame de compradores de peixe na chegada de uma; Vista da barra do Guriú , em primeiro plano vários pés de ciúme, planta exótica e invasora (!)
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7 comentários:
Fala Broder, essa fotos ficaram muito boas !!! Abs,Alex
Alex, queria que voce visse as que eu tenho perdido! Ontem amanheci na duna do por so sol em jeri, tinha a lua a direita se pondo no mar e o sol na esquerda nascendo nas dunas, ao mesmo tempo !
Abraço!
(se quiser alguma das fotos em alta res é só dar um toque!
Oi Rafael!!
Por onde você anda menino??Jeri ou Guriú?Nunca mais te vi...
Muito legal seu blog e adorei as fotos.Quando vamos comer um açai?
Beijos e ate qualquer dia
Ou a gente vive ou registra. Melhor viver!
Bjs
Profe q q isso rsrs
me coloca na mochila.. rs
bjinhosss
Boa sorte ai e posta tudooo
inté
Nada mal...
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